sábado, 2 de janeiro de 2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE – UFAC


CELA: DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES

CURSO: ARTES CÊNICAS – 5º PERÍODO

DISCIPLINA: HISTÓRIA DO TEATRO BRASILEIRO I

DOCENTE: ADRIANA SANTELI

DISCENTE: FRANCISCO LINDEMBERGUE RICARTE DO NASCIMENTO

FRANÇOISE PESSOA CAVALCANTE

GILVÂNIA EVANGELISTA ALVES

DATA: 26/11/2009





26 de novembro de 2009



ANÁLISE DA OBRA

“ELES NÃO USAM BLACK-TIE”

GIANFRANCESCO GUARNIERI













ANÁLISE DA PEÇA “ELES NÃO USAM BLACK-TIE” DE GIANFRANCESCO GUARNIERI.

TÍTULO/AUTOR/ÉPOCA/TRADUÇÃO

Eles não usam black-tie é de Gianfrancesco Guarnieri, foi sua primeira peça. Foi escrita no século XX, no ano de 1958, e quando encenada pela primeira vez, foi colocado no lugar de cenários pomposos e figurinos luxuosos apenas elementos de cena indispensáveis pelo cenógrafo Flávio Império e no lugar de personagens rico-nobres, operários e moradores do morro.

ESTRUTURA FORMAL DO TEXTO

Esta peça está dividida em três atos e seis quadros, onde o primeiro ato possui dois quadros, o segundo dois quadros e o terceiro dois quadros.

1° ATO:

Quadro I

- Maria diz que está grávida e combinam o noivado.

¬¬- Otavio revela uma suposta greve.

Quadro II

- Preparação para festa de noivado.

- Bráulio informa que a maioria aderiu à greve e que se iniciará nos próximos dias.Acontece a festa de noivado.

2° ATO:

Quadro I

– Discutem sobre a possibilidade de Tião furar a greve.

- Bráulio é informado que a polícia está em sua casa para prendê-lo, por ser líder grevista.

Quadro II

- Maria e Tião conversam sobre a possibilidade de irem morar na cidade após o casamento.

- Maria aconselha Tião que antes de qualquer possibilidade de querer furar a greve pense nos amigos que tanto lhe quer bem.

3º ATO:

Quadro I

- Maria conta a Romana que está grávida e pede para não contar a Seu Otavio.

- Bráulio informa que Tião furou a greve.

- Romana recebe a noticia da prisão de Otávio.

Quadro II

- Otávio expulsa Tião de casa.

- Maria diz para Tião que não vai embora com ele para a cidade.

DRAMATIS PERSONAE: NOMES, SUAS POSIÇÕES NA HIERARQUIA DO TEXTO

Nesta peça não esta bem clara o protagonista e o antagonista pelo fato da idéia de heroísmo, e personagem de maior destaque, típico dos protagonistas, se entrelaçarem confundindo o leitor entre Otávio e Tião. Mas apesar de não ter clareza entre essa divisão acredito que seja Otávio, pelo fato de sua bravura e heroísmo ao enfrentar uma causa tão complexa que foi a greve, do inicio ao fim, e sair como vencedor. seguem como antagonista Tião, Maria e Romana. Esta obra tem características épicas por isso tem personagens que poderiam até nem estar a li como, por exemplo: Chiquinho e Terezinha.

Tião: Irmão de Chiquinho, filho de Otávio e Romana, e namorado de Maria e trabalha na fábrica.

Maria: Namorada de Tião é técnica em corte e costura e trabalha na oficina.

Chiquinho: Irmão de Tião é entregador de uma venda e é apaixonado por Tezinha com quem namora.

Terezinha: Anda com Chiquinho e ajuda Romana.

Otávio: Pai de Chiquinho e Tião Trabalha na fábrica e é líder sindical.

Romana: Esposa de Otávio. Cuida da casa e lava roupas para fora para auxiliar a renda doméstica.

Bráulio: Faz parte da liderança grevista e é amigo de Otávio e Romana.

João: È irmão de Maria e melhor amigo de Tião.

Jesuino: Marido de Dalva e amigo da família de Otávio.

Dalva: Esposa de Jesuíno.

CONSTELAÇÃO DOS PERSONAGENS

Tião Otávio



João Chiquinho Dalva

Maria Jesuíno

Terezinha

Romana Bráulio



FUNÇÃO DAS PERSONAGENS:

“Eles não usam black-tie situa-se numa favela, nos anos 50, e tem como tema a greve, e ao lado da greve a peça tem como pano de fundo um debate sobre as grandes verdades eternas, reflexões universais sobre a frágil condição humana, sobre os homens e seus conflitos. É a história de um choque entre pai e filho com posições ideológicas e morais completamente opostas e divergentes, o que, por sinal, dá a tônica dramática ao texto.

O pai, Otávio, é operário de carreira, um sonhador, um idealista, leitor de autores socialistas e, ao mesmo tempo um revolucionário por convicção e consciente de suas lutas. Forte e corajoso entre os seus companheiros, experimentou várias lideranças, algumas prisões, com isso ganha destaque entre os seus transformando-se num dos cabeças do movimento grevista.

O filho, Tião, em razão das prisões do pai grevista, é criado praticamente, na cidade, longe do morro, com os padrinhos, sem conviver com esse mundo de luta e reivindicação da classe operária. Hoje adulto e morando no morro com os pais, vive um dos maiores conflitos de sua vida. Em primeiro lugar não quer aderir à greve, pois acha que essa é uma luta inglória, sem maiores resultados para a classe. Em segundo lugar pretende se casar com Maria, moça simples, porém determinada e leal ao seu povo, e está esperando um filho seu. Desta forma, Tião está mais preocupado com o seu futuro do que com a luta de seus companheiros, que sonham com melhores salários. Para Tião, greve é algo utópico. Ele não tem tempo para esperar, precisa resolver seus problemas de imediato, ou seja, se casar.

É preciso esclarecer que Tião, ao contrário de seu amigo Jesuíno, malandro, fraco e oportunista, é um jovem corajoso, mesmo porque fura a greve sem medo dos companheiros, achando que está agindo corretamente. Por essa atitude, acaba perdendo a amizade de todos de seu grupo, restando apenas um colega da fábrica e João, irmão de Maria, um homem ponderado e maduro capaz de compreender a situação conflitante vivida pelo amigo Tião e ainda apoiar sua irmã neste momento difícil.

Na realidade, Tião não tem medo do confronto com o inimigo. O seu medo é outro, é o grande medo de toda a sociedade, o medo de ser pobre, por isso quer subir na vida e deixar para trás a condição difícil e miserável do morro, que, por sinal, é desafiada cotidianamente pela coragem e bravura de Romana, sua mãe, mulher de pulso e determinação e responsável pelo equilíbrio da casa e da família.

Eles não usam black-tie é um texto político e social, sempre atual no qual Gianfracesco Guarnieri criou de um lado, personagens marcantes e populares como Terezinha, Chiquinho, Dalvinha e Jesuíno que nos revelam um mundo alegre, descontraído e aparentemente feliz. Já por outro lado a peça se apresenta forte e densa, revelando de maneira real os conflitos que atormentam personagens como Otávio, Romana, Tião, Maria e Bráulio. São tais encontros e são esses momentos alegres e comoventes , que nos provocam o riso e a dor, alegria e tristeza. Assim, se por um lado mostra um olhar profundo dentro da sociedade brasileira, por outro esse olhar vem embalado por um valor poético materializado na visão romântica do mundo de seus personagens.

Embora, na convencional teoria de dramaturgia teatral não se enquadre essa abordagem, o drama social é de natureza épica e por isso mesmo uma contradição em si mesma. Aqui, novamente Guarnieri quebrou também outra regra essencial, presente nos manuais do "bom drama": ao invés de trazer personagens "superiores" como protagonistas, ele se utilizou de gente humilde, trabalhadores comuns, para conduzir sua história. Mesmo as mais simples metáforas, foram pinçadas nos mais básicos valores de nossa cultura popular, como por exemplo, na metáfora do amor, o feijão, prato massivo na América do Sul, teria um "coração de mãe".

A temática não é política, muito menos panfletária. O que discorre são relações de amor, solidariedade e esperança diante dos percalços de uma vida miserável. Assim, a peça alia temas como greve e vida operária com preocupações e reflexões universais do ser humano. Sob o olhar de Karl Marx, em um retrato iluminado por um feixe de luz na parede do cenário, o debate entre a coletividade e o individualismo, simultaneamente cru e sensível, vai crescendo.

Eles não usam black-tie é um marco do teatro de temática social. Foi com a encenação de Eles não usam black-tie, que se iniciou uma produção sistemática e crítica de textos dispostos a representar as classes subalternas, com ênfase para a representação do proletariado. Nesse sentido, a peça de Guarnieri insere-se num quadro que se ampliou a partir da década de 1950, quando surgiu uma dramaturgia com preocupações ligadas à representação de uma camada específica da sociedade brasileira e, para além disso, em busca da construção de uma identidade nacional pautada em variedades culturais internas.” (Lindembergue e Gil)





“Nesta obra a impulsionadora de todo o drama não está em um personagem humano, mas em uma situação social, é a situação da greve em uma fábrica que move os conflitos, pois a partir dela se revelam os desejos individuais, bem como do coletivo dentro de uma mesma classe de trabalhadores, neste caso, operários. Os conflitos giram em torno da greve, esta por sua vez não é levada ao palco garantindo uma característica épica para a obra de Guarniery.

A personagem Romana trás para a peça a imagem de uma pessoa “pé no chão”, que não se deixa levar por romantismos e sensibilidades, ela usa da razão e coloca isso claramente para os demais. Já Maria que é bem mais jovem que Romana ainda é sonhadora, mas não tanto quanto o seu noivo, este sim, acredita que pode ter uma vida melhor, ainda é bastante sonhador. Otávio se revela um legítimo pai de família da metade do século XX, onde criou os filhos com muita dificuldade, porém com dignidade. Apesar de ser o chefe da família, se mostra no final da peça como um homem sensível e sujeito a erros. Para poupar o filho de represarias por parte dos colegas da fábrica, diz ao filho que o culpado de toda sua ação (furar a greve) é dele, pois não o criou direito e deixou Tião sentir o gosto da vida fora daquele mundo de operários, de moradia em barracos no morro.

A função de Bráulio é trazer as informações da greve e sua organização. Chiquinho e Terezinha mostram o curso natural da vida, onde o filho geralmente segue o caminho do pai, Chiquinho sonha em trabalhar na fábrica como seu pai e um dia casar com Terezinha, como seu irmão mais velho. Terezinha é uma menina moça a procura não só de um marido, mas de uma família que possa adotar como sua, pois na obra não se fala da família de Terezinha, parece-nos que ela mora com uma tia. Juvêncio, apesar de não aparecer fisicamente na obra, garante perfeitamente a parte artística daquela classe de pessoas humildes e moradores de morro. Coloca na obra de Guarniery o que acontece corriqueiramente até os dias de hoje nas favelas do Brasil a fora ou até mesmo fora delas, onde o criador de certas obras é trapaceado por aqueles que usam de “má fé” para se dar bem financeiramente.” (Françoise Pessoa)

TEMPORALIDADE

A história se passa num tempo que havia muitas greves de operário, num tempo que o Brasil se afirmava economicamente, mas ao mesmo tempo não remunerava bem seus trabalhadores. O tempo dramático do texto é linear, se passa em um período de duas semanas, mais precisamente em 10 dias:

“(...) vai se preparando, Tião. Num dou duas semanas e vai estourar uma bruta greve (...)” (pg. 19)

ESPAÇO

O tempo dramático da peça é final dos anos 50, do século passado. O espaço físico se encontra na periferia da cidade de São Paulo, na verdade toda a peça está localizada no “barraco”, casa de Romana e Otávio localizado em um morro. Dentro do texto temos várias passagens que indicam o espaço dramático da peça e observamos durante as falas que esta periferia é um morro:

“Bráulio (arfando) - Êta subidinha braba! Romana – E eu que subo isso umas quatro vezes por dia!” (pg. 44)

ASPECTOS INQUIETANTES

Chamou-me atenção, a forma que o autor coloca dentro deste texto, social-político, outros assuntos como, por exemplo, a diversidade das religiões, fugindo assim de seu foco principal que, a meu ver, é o abuso de poder sobre os mais fracos (pobres), ou aqueles que não têm ascensão social através de um “NOME” ou situação financeira bem sucedida. Até a Arte de Juvêncio foi ceifada, logo a Arte que é algo, muitas vezes, que acreditados que ninguém pode se apropriar, que ninguém pode roubar.

Outro ponto interessante e inquietante são os personagens de Chiquinho e Terezinha, são papéis que poderiam não estar ali, mas com isso, Guarnieri, garante mais uma característica épica a sua obra. O que tem haver, a mulher que vai parir (Cândida) com toda a história? Guarnieri quis mostrar a coletividade e generosidade das pessoas do morro, das pessoas mais simples. Mas, mesmo assim é inquietante.

Apesar de não aparecer como personagem, considero Juvêncio um personagem tão importante quanto os outros, pois está o tempo todo na peça com sua sonoplastia fantástica e intrigante, comovendo os espectadores com seu samba melodramático. Só se sabe que ele sofreu uma desventura amorosa e por isso canta e toca sua música para curar suas mágoas. Por que somente toca na parte da noite?

Em referência ao equipamento de trabalho de Chiquinho, sua cesta que ele carinhosamente chama de Amélia: Para que Chiquinho à utiliza?

Qual a enfermidade na qual a mãe de Maria é vítima?

Sabe-se, porém que Maria é técnica em corte e costura. E trabalha em uma oficina. Qual a função exercida pela mesma na oficina?

Fala-se na Tia de Terezinha. Sabe-se que seu pai faleceu ainda em sua infância. Quem é, sua tia? E sua mãe, onde está? Será que ela é órfã?

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