sábado, 18 de abril de 2009

Análise sobre o texto: “Pequeno órganon para o teatro" e da obra “Mãe Coragem e seus filhos” de Bertold Brecht.



Falando do Distanciamento proposto por Brecht

O texto o “Pequeno Órganon” de Bertold Brecht escrito em 1948, é uma série de propostas e afirmações sobre como uma peça de teatro deve ser colocada/encenada no palco para que esta não fique restringida apenas em dar diversão ao espectador, mas acima de tudo faça com que este espectador torne mais um ator/elemento do espetáculo.
Para melhor clareza e entendimento do texto “O Pequeno Órganon”, sugiro que divida ele duas partes.
Na primeira Brecht faz um levantamento sobre as funções do teatro, consegue expor como o teatro tem sido desde os tempos da idade antiga até os dias em que ele escreveu este texto. Coloca o teatro em diversas perspectivas. Fazendo com que o leitor ou, se familiarize com o nome teatro para poder prosseguir a leitura, ou que este leitor se aprofunde neste tema ainda mais e se intere como o teatro foi concebido desde sua criação.
Ainda na primeira parte, Brecht faz afirmações sobre o teatro servir como diversão e ao mesmo tempo ensinar, onde possa ser tirado do objeto de prazer (o teatro) um objeto didático. Para ele o teatro deve no mesmo instante que diverte ser fonte de profundas reflexões sobre o mundo do espectador, estas reflexões devem partir de um sentimento frio, sem nem um tipo de romantismo ou ilusões sobre a situação encenada. Com isso, fazer do teatro, também uma instituição pedagógica.
Na segunda parte ele faz afirmações em relação ao espetáculo teatral propriamente dito, o espetáculo em si. Como este deve ser levado pra cena. Para isso ele deixa propostas de construção do espetáculo em relação à atuação, empatia entre público e o contexto da peça, gesto social entre personagens tudo isso visando uma absorção do público através de um distanciamento.
O distanciamento que Brecht propõe consiste em dar um espetáculo ao público onde este (público) não consiga dispersar sua atenção para outros fatores lúdicos, que comumente existe num espetáculo teatral. Através deste distanciamento proposto por Brecht, o público consegue se surpreender a cada cena, criando assim um senso crítico sobre a mesma. Para que esta surpresa aconteça e traga reflexões críticas, o espetáculo tem que lhe oferecer algo inusitado e fora da vida cotidiana, mesmo sendo a cena uma representação da vida comum. Por exemplo: Na peça “Mãe Coragem e seus filhos” temos algumas passagens deste tipo:
1. A Hora que Queijinho esconde o cofre do regimento dentro do casaco para ir até a beira do rio.
Ao ouvirmos falar em cofre, nossa mente nos remete a algo grande pesado. Ele não caberia dentro de um casaco, então esta ação é tida como diferente para o público. Nesta passagem não importa o objeto, como ele é na realidade, mas sim a ação da personagem.
2. Outro distanciamento é quando Mãe Coragem diante de um filho morto age com naturalidade e deixando pra trás todo o sentimento materno que geralmente toda mãe tem.
3. Outro exemplo bom, que provoca reflexões profundas ao expectador como a Mãe Coragem protege e ao mesmo tempo usa a vida de seus filhos pra o seu próprio bem. Como com Katrin, ela não quer que a filha se case porque precisa de certa forma dela, mas alega que o motivo maior é por não existem homens honrados e ela terá que esperar a guerra acabar para encontrar um bom partido. A própria mãe denigre a imagem da própria filha. Este estranhamento é forte para quem lê a peça.
4. O distanciamento de Brecht consiste em mostrar a realidade da vida humana dentro de um contexto político, social, econômico, sem “firulas”, sentimentalismos ou mesmo romantismo.
5. A forma que Mãe Coragem conduz seus relacionamentos. Ela teve 3 filhos de homens diferentes (a peça não deixa isso claro), penso que na época em que esta peça foi para o palco pela 1ª vez deve ter causado estranheza para o público, ao ver no palco uma senhora afirmar que os filhos não têm o mesmo nome, que são de pais diferentes.
6. O fim da peça já é algo bem diferente, ela não acaba, como diz: “E viveram felizes para sempre”. A parte da morte de Katrin poderia ser diferente, mas não o foi, porque a vida real não é diferente daquilo. Os mais fortes sempre levam vantagens em relação aos mais fracos.
Bem, eu poderia ficar numerando por horas, as infinitas partes da obra de Brecht, “Mãe Coragem e seus filhos”, que tem distanciamento/estranheza. Porém vou ficando por aqui, refletindo criticamente sobre o meu modo de agir e pensar em relação à natureza do homem, natureza da terra. Refletir até que ponto as descobertas das máquinas faz bem ou mal. Sabendo sim, que tenho que acompanhar o processo e suas contradições, só assim vou ver suas transformações.


“Não ter partido, em arte, significa apenas pertencer ao partido dominador.”
(Bertold Brecht)

Um comentário:

Unknown disse...

o distanciamento é notado na encenação e não na literatura dramática. Posso encenar um texto de Brecht sem usar a tecnica do distanciamento.