sábado, 18 de abril de 2009

O fim do ator reprodutor de idéias

Uma nova arte surge a partir dos métodos de um dos mais importantes teatrólogos do século XX, V. Meyerhold.
A arte do ator deu início no começo do século passado, na época Meyerhold sentiu necessidade de trabalhar com uma nova perspectiva teatral e saiu em busca de novas técnicas, um novo olhar para montagens de espetáculos. Esta vontade se despertou a partir de um contato com as obras de Tchekhov e a forma com que elas eram trabalhadas na cena.
Tchekhov apesar de ter sido “domesticado” pelo naturalismo em voga na época, trazia nas suas obras algo mais do que representações naturais da vida real, grandes cenários, perfeitas reproduções históricas com maquinaria exorbitante, figurino e maquiagens fidelíssimas, ele trazia a sutileza dos sentimentos internos da vida cotidiana da sociedade russa, as fraquezas do ser humano e como o, maior leva vantagem em cima do menor.
Com todas estas mudanças citadas acima, Meyerhold saiu da companhia “Teatro de Arte de Moscou”, criando um distanciamento com seu diretor C. Stanislavski e consequentemente a forma naturalista imposta pela companhia. A partir deste momento vamos nos defrontar com as novas concepções de encenação e composição teatral.
O “ponta pé” inicial de meyerhold foi dar vez ao ator dentro da produção teatral, agora o ator poderia criar ou, ao menos ser criativo nas montagens cênicas, ele passa agora de reprodutor de idéias do autor e diretor para o objeto também materializado nas cenas, “passando a pensar sobre a cena a partir de sua materialidade” (Marcus Mota).
“Queremos também pensar enquanto atuamos. Queremos saber por que estamos atuando, o que estamos atuando”
V. Meyerhold

Através de um sistema, nosso encenador em voga, organiza cenas, atores e delega tarefas até a concretização final dos espetáculos. Coloca todos os participantes desta complexa organização em um plano linear seguindo um esquema geométrico onde se põem o autor-encenador-ator-espectador, Meyerhold explica as relações entre eles, onde todos são atores participativos dentro do produto final. A participação deste último é através de sua própria imaginação.
Meyerhold segue seu caminho pelas novas descobertas mesmo dentro de um olhar hegemônico acerca do teatro da época, vai rompendo de forma devagar o que já era aceito em um senso comum, o teatro naturalista vai se desfazendo aos poucos graças a ele.
Junto com a materialização do ator e do espetáculo, do corpo do ator como performance, vem uma segunda intervenção importante de Meyerhold para o teatro, ele começa a colocar a música como uma forte aliada no trabalho do ator e de fazeres teatrais. A música como ponto de partida para um espetáculo bem formulado no tempo, espaço, ritmo, movimentos e performance do ator. Ele liga os movimentos a música e também a palavra a música.
Por fim, Meyerhold com sua nova forma de agir e pensar trouxe e deixou um grande legado para o teatro que temos hoje, seja com os seus princípios da biomecânica, sua teatralização do teatro, materialização dos objetos e seres humanos no palco, plásticas corporais e com a descoberta da música para realizar um espetáculo limpo e bem elaborado.
Nas rupturas de V. Meyerhold saímos de um teatro de ilusão, imposição, fechado em si, para um teatro mais democrático, onde todos têm seu lugar devidamente “marcado”, mas não fechado em si, onde todos almejam um mesmo objetivo. O espetáculo teatral.

"Uma obra de arte só exerce influência por intermédio da imaginação. Por isso ela deve estimular continuamente a imaginação"
Schopenhauer

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