TEMPO, AÇÃO E ESPAÇOS ETERNOS – 2001 X 2001 PENSAMENTOS.
Já é fato que o filme “2001 – Uma Odisséia no Espaço” de Kubrick revolucionou uma época sendo um dos melhores trabalhos cinematográfico do séc. XX, trouxe pra os terráqueos uma realidade até então não imaginada por muitos, tanto no que se refere ao passado (origem), como futuro. O filme lançado em 1968 fez uma viagem histórica e profética de 2001 anos, sendo esta última previsão para os próximos 33, expondo com muita técnica as possibilidades e desafios que a humanidade teria para chegar ao êxtase da evolução humana.
As características tecnológicas do filme, bem como o espaço, tempo e ação, proporciona de certa maneira uma catarse para os expectadores, pois no instante da apreciação do filme, ele se encontra dentro dele se purgando e ao mesmo tempo purificando sua alma através de possibilidades invisíveis, porém imagináveis, passando por situações primitivas até chegar na mais alta contemporaneidade.
Como em obras do teatro clássico, por exemplo: As tragédias gregas, o filme de Kubrick consegue de forma sutil inserir seus expectadores em situações e aventuras fantásticas, portanto acredito que nesse sentido já atinge um dos objetivos da arte, que é transportar indivíduos pelo tempo e espaço através da poesia.
Apesar do filme “2001 – Uma Odisséia no Espaço” ser um trabalho revolucionário e cheio de tecnologia, nele há um percentual grande de poesia. Aproximando esta produção da sétima arte supracitada para os dias atuais, pode-se considerar que o autor foi além do ano de 2001, pois a população atual ainda está se encaminhando pra o desfecho do filme. Creio que poderíamos nos arriscar em cambiar o número 2001 do título do filme, para “Eternamente – Uma Odisséia no Espaço”.
Será que podemos traçar uma linha paralela entre o filme e as tragédias gregas? Se levarmos em consideração o conceito das palavras “Odisséia e Tragédia” sim.
Odisséia – 1. Viagem cheia de peripécias e aventuras. 2. série de complicações ou ocorrências variadas e inesperadas. (Aurélio Buarque, 1999).
Tragédia – Peça teatral, de ordinário em versos, e que termina em regra, por acontecimentos fatais. (Aurélio Buarque, 1999).
Dentro desta aproximação, que com a ajuda do Aurélio se torna clara, podemos fazer algumas observações: Peripécias, complicações, versos, acontecimentos fatais foram encontrados nos dois trabalhos e a partir disso podemos encontrar tanto no filme quanto nas tragédias as unidades aristotélicas de tempo, espaço e ação provando assim que a dramaticidade do filme se aconchega no “berço” da tragédia Clássica.
O filme abrange diversos conceitos da palavra “Espaço”, nele encontramos o espaço cênico que constitui na área de atuação, pois não se restringe a um gênero dramático específico (Pavis, 1999 pp.132-4; 2005 p 142) in (Espasseando 2008, César Lignelli). Esta produção usou o espaço naturalista – que imita ao máximo o mundo que ele pinta. Sua fatura material – infra- estrutura, econômica, hereditariedade, historicidade (Espasseando 2008, Lignelli). O espaço do filme foi dinâmico de toda concepção dramatúrgica não causando problemas e tornando o espaço visível da fabricação e da manifestação do sentido (Pavis 1999 p. 134-5) in (Espasseando 2008, Lignelli).
O espaço dramático e gestual do filme se valeu de extraordinária concepção, pois deu oportunidade e possibilidades infinitas de ações. Segundo Lignelli, não se separa as ações dos personagens dos espaços, os dois se completam dando sentido ao drama exigido e escrito pelo autor. Por fim, falaremos do espaço acústico muito utilizado pelo diretor, compôs espaços que no olhar pareciam não existir, porém a música ritmada ocupava estes espaços, dando um imaginário sonoro a muitas cenas.
“O espaço acústico é explorado ao limite. ‘O fundo é tão importante como o primeiro plano existe um organismo vivo que hora respira ofegante com pressa e agonia e hora aparentemente descansa uma parte de seu corpo num cérebro repleto de erupções de pensamentos” (Davini 2000 p.262) in (Espasseando 2008, César Lignelli p.6)
O tempo e ação do filme acontecem simultaneamente se levarmos em consideração as palavras de Pavis 1999, no dicionário do teatro, onde ele relaciona o tempo do teatro à indicação de um movimento que não costuma ser medido por um instrumento de precisão,...( Lignelli 2008, Ao Mesmo Tempo p.3).
O tempo dramático do filme de Kubrck é maior que o tempo cênico, a ficção se passa em milênios em quanto a película dura 2hs e 15 minutos.
O tempo do filme é dado através da música, do ritmo durante todo o tempo cênico do filme os expectadores ouvem sons, dos mais primitivos aos mais sofisticados.
Mais uma vez retornaremos as tragédias gregas, agora com a ajuda de César Lignelli que diz em seu ensaio (Ao Mesmo Tempo 2008 p. 4):
“A Importância da noção do tempo na tragédia grega, considerada como a origem do teatro ocidental, tem sido explicitada principalmente pelo o lugar que a música ocupa em sua configuração”.
Como nas tragédias gregas, o filme traz essa característica sonora, através da musicalidade se alcançou o tempo e a ação das cenas.
O ritmo do filme é fortemente marcado pela música, ora ofegante ora tranqüila, dando completa composição à poesia da obra.
Com êxito o diretor usou os conceitos de Adolph Appia que aponta a música como forma de controle tanto do tempo quanto da emoção objetivando a organização do discurso para a produção de sentido em cena, (Lignelli 2008, Ao Mesmo Tempo p.5).
Acredito que o momento exato em que o filme fundiu as três unidades tempo, ação e espaço foi no final do filme, quando em uma maravilhosa transposição de cenas vemos no mesmo espaço vários tempos representado por ações e estados diferentes da mesma personagem, Tornando possível o que a realidade jamais conseguiu alcançar que é a eternidade, provando a sucessão dos tempos, espaços e ações não só do tempo como das espécies.
“Que é a eternidade”?
“A eternidade não é a soma de todos os nossos passados. A eternidade é todos os nossos tempos passados, todos os tempos passados de todos os seres conscientes. Todo o passado, esse passado que não se sabe quando começou. E, naturalmente, todo o presente. Este momento presente que engloba todas as cidades, todos os mundos, o espaço entre os planetas. E, é claro o futuro. O futuro, que ainda não foi criado, mas que também existe”.
Jorge Luis Borges